A Festa Ibérica
da Olaria e do Barro celebra 25 anos entre os dias 23 e 26 de maio em S. Pedro
do Corval, no concelho de Reguengos de Monsaraz. Um quarto de século depois da
primeira edição, os centros oleiros de S. Pedro do Corval e de Salvatierra de
los Barros, na província de Badajoz (Espanha), continuam a juntar-se anualmente
para mostrar a sua arte neste evento transfronteiriço de promoção cultural e
turística da olaria.
A 25ª Festa
Ibérica da Olaria e do Barro vai ter a participação de 66 olarias e ceramistas
de Portugal e de Espanha. O Centro Oleiro de S. Pedro do Corval terá 21 olarias
no certame e o de Salvatierra de los Barros contará com 10 expositores.
Participam
também nesta edição comemorativa olarias de Algés, Condeixa-a-Velha, Aveiras de
Cima, Mourão, Assafora, Valongo do Vouga, Beringel, Loures, Queluz (3), Galegos
Santa Maria, Odivelas, Évora, Guimarães, Redondo, Ermesinde, Ponte de Sor,
Barcelos (2), Coimbra, Estremoz, Beja, Mafra (2), Baixa da Banheira, Albufeira,
Vila Nova de Famalicão, Amares, Vila Nova de Milfontes, Trofa e Sabugal. De
Espanha, vão estar igualmente no certame olarias de Badajoz (2) e de Mérida.
A
Festa Ibérica da Olaria e do Barro é uma homenagem viva à arte da olaria
através de exposições, demonstrações ao vivo, jornadas ibéricas e música
tradicional, pretendendo-se valorizar a olaria, chamar a atenção para o seu
valor artesanal e artístico e apontar estratégias para o seu desenvolvimento
económico e profissional. Este evento transfronteiriço é organizado em anos alternados
em cada município.
O programa da
25ª Festa Ibérica da Olaria e do Barro abre no dia 23 de maio, às 18h, com a
cerimónia oficial e a visita aos expositores. A primeira noite do Festival de
Música ibérica vai receber pelas 22h a atuação do grupo Roda Pé.
Na sexta-feira,
dia 24 de maio, na Sociedade União e Progresso Aldematense, decorrem a partir
das 10h as Jornadas Ibéricas de Olaria e Cerâmica sobre “A sustentabilidade
económica do setor”. A primeira apresentação será sobre “A olaria no quadro da
Convenção para a Salvaguarda do Património Imaterial da UNESCO”, por Ana Paula
Amendoeira, Diretora da Direção Regional de Cultura do Alentejo, seguindo-se
“Emprego e empreendedorismo no artesanato”, por Paula Caeiro, Diretora do
Centro de Emprego e Formação Profissional de Évora. Ainda durante a manhã
haverá intervenções de Vitor Dordio, da ADRAL – Agência de Desenvolvimento
Regional do Alentejo, sobre “Oportunidades de investimento para o setor
oleiro”, e de Jose Angel Calero, técnico do Museu de Alfareria de Salvatierra
de los Barros, sobre “A evolução da olaria de Salvatierra de los Barros nos
últimos 25 anos”, seguindo-se um debate.
As jornadas
prosseguem a partir das 15h com as comunicações “Da tradição ao futuro”, por
José Luís Almeida e Silva, Diretor da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas
Cerâmicas, “Tradição e internacionalização” pela ceramista Sónia Borga, e
“Diferenças e semelhanças entre a cerâmica espanhola e portuguesa. Projetos do
Agrupamento Europeu de Cidades Cerâmicas”, por Oriol Calvo, da Associação
Espanhola de Cidades da Cerâmica. A fechar haverá a apresentação “Memórias para
memória futura”, por Antónia Conde, do CIDEHUS – Centro Interdisciplinar de
História, Culturas e Sociedades da Universidade de Évora, e o debate.
A Festa Ibérica
da Olaria e do Barro prossegue às 17h30 com workshops de vientos andinos,
tambores batá e ritmos afro-latinos com o projeto MICA. Este projeto argentino
atua à noite, pelas 22h, no Festival de Música Ibérica.
No sábado, à
mesma hora, o festival terá um concerto com a Banda da Sociedade Filarmónica
Corvalense com o cantor lírico Carlos Guilherme e a soprano Filipa Lopes. O
último dia da Festa Ibérica da Olaria e do Barro vai ter um espetáculo de
homenagem a Manuel Conde (26/09/1938 - 25/5/2005), natural de S. Pedro do
Corval, que tendo aprendido o habitual ofício de oleiro, desde muito jovem
revelou apetência e interesse pela música.
A aprendizagem
amadora junto de filarmónicas do concelho, em particular com o Maestro Silva
Domingues que durante cerca de trinta anos dirigiu a Banda da Sociedade
Filarmónica Harmonia Reguenguense, viria a ser consolidada com o seu ingresso
na Banda Militar de Évora, à época uma das principais estruturas de
aprendizagem e desenvolvimento musical do sul do país. Possuidor de uma
invulgar paixão e interesse pela execução instrumental, tocou um vasto e
diversificado naipe de instrumentos (trompa de harmonia, trompete, guitarra
acústica e elétrica, violino, piano, órgão eletrónico, entre outros), mas foi
como compositor que o seu trabalho viria a ser reconhecido e valorizado, com
mais de quatro dezenas de originais da sua autoria.
O espetáculo de
homenagem a Manuel Conde inicia-se às 17h30 e terá em palco Celina da Piedade,
Pedro Mestre, Mário Moita, Jorge Roque, Jaime Varela, Leila Silva, Ana Tareco,
o poeta Manuel Sérgio, a Banda da Sociedade Filarmónica Corvalense, o grupo
musical Newma, o Coro Polifónico da Sociedade Filarmónica Corvalense, o Grupo
Coral da Casa do Povo de Reguengos de Monsaraz e o Grupo Coral da Freguesia de
Monsaraz. Os músicos de palco vão ser Sérgio Galante (guitarra), Der Medinas
(contrabaixo), Hélio Ramalho (trompete), André Conde (trombone), Kajó Soares
(guitarra portuguesa), Catarina Silva (flauta), Jorge Conde (guitarra), Vasco
Ramalho (percussão), Raul Gouveia (saxofone), José Miguel Conde (clarinetes),
Vanessa Gaspar (clarinetes), Francisco Rato (violino), Nelson Conde
(guitarras), Ricardo Ramos (fagote) e Valter Marrafa (violoncelo).
Este certame
transfronteiriço terá ainda a exposição “25 anos da Festa Ibérica da Olaria e
do Barro”, composta por cartazes das edições anteriores e peças de todas as
olarias dos centros oleiros de S. Pedro do Corval e de Salvatierra de los
Barros, a mostra itinerante “Cerâmica Portuguesa”, da Associação Portuguesa de
Cidades e Vilas Cerâmicas, que conta com duas peças de cada um dos 14
municípios fundadores da associação, e “Alfarerias Extinguidas”, uma exposição
que apresenta peças antigas da coleção de José Luis Naharro e do Museu de
Alfareria de Salvatierra de los Barros.
Sobre o Centro Oleiro
de S. Pedro do Corval
O
Centro Oleiro de S. Pedro do Corval é considerado o maior de Portugal com 22
olarias em atividade que continuam a pintar os motivos típicos do Alentejo,
como por exemplo o pastor, a apanha da azeitona e a vindima. Por entre potes,
rodas de oleiros e fornos descobrem-se peças utilitárias tradicionais, de
quando o barro se moldava às necessidades dos trabalhos dos campos e das vidas
humildes no Alentejo.
No
concelho de Reguengos de Monsaraz foram encontrados vestígios de olaria desde
os tempos pré-históricos, como por exemplo fragmentos de peças e depósitos de
argilas com características para a atividade. Em 1276, D. Afonso III, no foral
Afonsino de Monsaraz, reconhece privilégios aos oleiros do seu termo que
poderiam assim ter livremente fornos de olaria. No foral Manuelino, de 1512,
também há referência à olaria do concelho, e já em 1905 S. Pedro do Corval
teria cerca de 30 oficinas em funcionamento, havendo a distinção entre as de
louça miúda, as de talha para o vinho (seriam quatro) e as de tarefas para a
aguardente (seis), o que demonstra também a importância da localidade na
produção vinícola.
A olaria de S. Pedro do Corval é uma marca registada
pois o Município de Reguengos de Monsaraz registou em 2008 no Instituto
Nacional da Propriedade Industrial as marcas nacionais “Olaria de São Pedro do
Corval”, “Rota da Olaria”, “Rota dos Oleiros” e “Olaria”. Em 2015 foi
inaugurada a Casa do Barro, um centro interpretativo que visa preservar,
promover e assegurar a sustentabilidade da olaria de São Pedro do Corval,
proporcionando a todos os visitantes o conhecimento e a aprendizagem sobre a
arte oleira e o barro através de oficinas, palestras e outras atividades.
A Casa do Barro resulta da reabilitação de uma antiga
olaria, envolta em história e tradição, com dois fornos a lenha que serviam
para cozer a louça, um tino onde se coava o barro e rodas de oleiro com as suas
imponentes arquinas. A recuperação deste local permitiu recriar o ciclo do
barro, desde a terra ao produto final.
O centro interpretativo tem à disposição do público o
Espaço Atividade, onde se realizam iniciativas com oleiros e ceramistas e os
visitantes podem aprender a manusear o barro e a produzir uma peça numa roda de
oleiro. A Área Expositiva tem informação sobre todas as olarias em atividade e
no Espaço Memória os visitantes encontram objetos e documentos sobre a história
do centro oleiro, incluindo peças de barro antigas, dois fornos tradicionais a
lenha, um tino, um tanque e rodas de oleiro. No Espaço Mostra podem ser
apreciadas as peças produzidas pelas olarias atualmente em atividade.
Gonçalo
Jordão, especialista em pintura decorativa que integrou a equipa de arte do
filme “The Grand Budapest Hotel”, de Wes Anderson, vencedora do Óscar de Melhor
Direção de Arte em 2015, pintou cinco painéis na Casa do Barro. Um painel é
sobre os diferentes tipos de barro e os restantes são alusivos aos quatro
elementos da natureza: terra, água, ar e fogo.